O presente artigo resulta da resposta de um leitor ao post com o título «4 de Fevereiro, onde estará a verdade». Vale a pena ler até ao fim esta contribuição para a clarificação da verdade histórica. Da nossa parte, nunca será excessivo discutir a verdade, quando feita desapaixonadamente.
Li a vossa curta noticia a propósito da próxima comemoração do 4 de Fevereiro. Preocupação sobretudo pela verdade histórica que tal feito encerra.
Quero exprimir-vos o meu breve pensamento:
a) considerar, a mera usurpação da paternidade da data, como "falsificação da história" parece-me excessivo. O que se passou foi que o próprio movimento de que resultou o 4 de Fevereiro, ainda hoje assim é, estava órfão de paternidade. As referências ao nosso Querido Cónego Neves, tanto quanto ao Paiva Domingos são inconsistentes; não têm sustentação factual. Baseiam-se em meros testemunhos verbais, moldados cada um, à medida de conveniências circunstanciais. Sabe-se simque foram participantes, talvez mesmo chefes de grupo, mas daí a ser autores de uma estratégiavai a distância da verdade. Confunde-se a bênção do Cónego e os seus conselhos com a concepção da estratégia e a coordenação da execução. Alguém, em seu perfeito juízo pode admitir que o Imperial e o Paiva algum dia possam ter concebido plano algum? Temo-los em boa conta mas, nada de exageros irracionais.
b) é notório um certo retraimento do MPLA a respeito da auto atribuição da data. Já admitem nada ter que ver com ela. Os testemunhos vivos, (ainda os há) dão conta de que teriam sido surpreendidos por notícias captadas por Lúcio Lara (o responsável pela coordenação da imprensa em Conakry) segundo as quais teria havido um ataque às cadeias de Luanda.
Na falta de paternidade o Comité Director, que a partida interrogativamente divagava, reuniu e muito bem, assumiu o feito e deu-lhe dimensão; em boa hora convenhamos, o projectou no nívelInternacional que lhe conhecemos em circunstâncias que resultaram em benefício para a nossa causa. O que se perdeu com isso?Depois, com a sua chegada a Luanda, é num outro momento da nossa história que absorve os seus autores como militantes seus, desde a clandestinidade. E isso foi mais um acto de grande inteligência e maturidade. Que não se via nos outros, sempre muito limitados em matéria de desempenhos intelectuais. O que lhes impediam então de o rejeitarem?
Discuti o facto com um dos nossos Kotas, que estava lá e rendi-me à conclusão de que terá sido melhor o resultado obtido com essa atitude, do que provavelmente seria se tivesse sido deixado sem a protecção, falha que aos Tugas mais convinha (certamente que a atribuiriam a um acto isolado de um "bando de turras, que queriam destruir o Portugal uno e indivisível")
c) não creio que se ganhe grande coisa (que o País ganhe) em manter em "fogo vivo" este tipo de polémicas. Sobretudo se fôr só para atingir aqueles que se auto proclamam fautores deste ou de outros feitos. Há mais polémicas para além das datas. Carlos Pacheco disse o que, muitos de nós já sabíamos há muito. E fê-lo por auscultação daqueles que têm os documentos que suportam os factos (que não estão na torre do Tombo).
É como, se quiséssemos perceber a Historia, ver alimentar o caso da data da fundação do MPLA (já contada e recontada) e pessoas com o nível de integridade de Paulo Jorge, aceitarem ser galardoados por anos de militância de uma organização que nem eles a conheceram, porque na ocasião ainda não existia.! Ou ler o VISÂO desta semana, que relaciona a data de tal fundação com o aparecimento do PCA de Viriato. E isto com ares de investigadores consabidos. Sabichões? Ignorância, é pouco. Talvez apenas pretensão! E o que no concreto ganha o País com isso? Porventura melhora a qualidade das pessoas que o servem e com quem tem de contar para se fazer? Morre menos uma criança no Hospital Pediátrico? Aumenta mais uma carteira na escola?
Meus cumprimentos e força rapaziada.
S. Araújo
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
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5 comentários:
A verdade histórica é um bem na conquista de uma relação sadia dentro de uma sociedade.
Criei uma relação de simpatia por este comentário, porque o seu autor mostra, não só, ser portador de conhecimento privilegiado sobre a questão levantada pelos jovens, mas também, por verter mais luz ao tema.
O comentário não deixa de colocar-se em consonância com muitas vozes que negam aquilo que foi ensinado na história oficial, e coloca um enfoque diferente na abordagem do problema.
Entretanto, há alguns aspectos formais que me preocupam e que gostaria de comentar:
Questão prévia : Estou inteiramente de acordo com a preocupação dos jovens ao pretenderem ser esclarecidos, em definitivo, sobre este facto político, de certa relevância histórica para o país, que lhes foi apresentada por diversos meios ( escola, ambiente familiar, encontros políticos, declarações de personalidades políticas etc. ), como tendo ocorrido sob a paternidade de determinado movimento político (o MPLA).
1º Não acho que o percurso deste problema tenha ficado pela mera usurpação da paternidade da data. Mesmo que assim fosse, aceitando as circunstância compreensíveis que levaram a tomada de posição,” oportuna”, seria de bom tom e politicamente correcto assumir a seu tempo a verdade dos factos. Mas, o posicionamento político circunstancial, historicamente necessário, foi reelaborado e num segundo momento, transformado num património histórico e político de relevo de um dos movimento independentista (o MPLA). Passou a ser um marcador simbólico de grandiosidade nacionalista, e utilizado indevidamente como capital histórico e institucional na cena politica nacional.
Este aproveitamento foi intencionalmente estruturado num discurso politico e numa historicidade com várias inverdades, que entrou inclusive na formação escolar de algumas gerações mais novas.
Portanto, penso ser neste desenvolvimento posterior, nesta tentativa de perpetuar tal situação sustentada numa construção falsa e distante da história, que passamos da “usurpação da paternidade” à falsificação da história. Neste aspecto, concordo que tenha havido falsificação, e sou de opinião que deve ser dado o verdadeiro nome as coisas.
2º Quanto a questão dos ganhos que o País poderá ter com estas polémica. Acho que os jovens, ao reclamar o conhecimento da verdade e ao proporem uma reflexão sobre o tema, demonstraram uma preocupação que é legítima, actual e pertinente.
Pois, um facto histórico que acabou por entrar na memória colectiva da sociedade angolana e na eventual formação destes jovens, não deve ser deixado a sorte do silêncio intencional daqueles que não podendo sustentar a mentira, preferem a ausência da verdade, um vazio muitas vezes preenchido pelo que ficou dito( a mentira).
A reconstituição da história não é uma necessidade meramente académica ou um exercício que deverá ser encarado como pouco importante. A história das sociedades e nações modernas, são pródigas em exemplos de busca da verdade para criar e construir entendimentos e paz social, diria mesmo para exorcizar os países dos maus instintos e espíritos.
É também um bom exercício de pedagogia na criação de novas mentalidades e formas de estar na vida social e política. O necessário é fazer vingar, normas de civilidade no debate. É preciso passarmos a colocar uma verdade no lugar onde terá sido posta uma mentira.
É o momento para perguntar :
Não é também esta, uma boa altura para as pessoas saberem o que se passou e o que se passa no nosso país?
UMA CR�TICA MUITO DURA AOS M�TODOS DO MPLA
Ao saber da conversa ocorrida em Acra (Ghana), L�cio Lara reagiu: � Os cubanos falam de mais�
HUGO AZANCOT DE MENEZES
Longe de mim a pretens�o de ter feito hist�ria ou de escrev�-la.
Contudo, vivi factos que envolvem, tamb�m , outros protagonistas.
Alguns, figuras ilustres. Outros, gente humilde, sem nome e sem hist�ria, relacionados, apesar de tudo, com per�odos inolvid�veis das nossas vidas.
Alguns destes factos , ainda que de fraca relev�ncia, podem ter interesse, como � entrelinhas da Hist�ria�, para ajudar a compreender situa�es controversas.
Conheci Ernesto Che Guevara em Acra , em 1964, e comprometi - me a n�o publicar alguns temas abordados na entrevista que tive o privil�gio de lhe fazer como � rep�rter� do jornal Fa�lha.
J� se passaram mais de 30 anos. O contexto actual � outro.
Pela primeira vez os revelo, na certeza de que j� n�o � o quebrar de um compromisso, nem a profana�o de uma imagem que no
A entrevista realizou-se na resid�ncia do embaixador de Cuba em Acra , Armando Entralgo Gonz�lez, que nos distinguiu com a sua presen�a.
Ali estava Che�
A sua tez muito p�lida contrastava com o verde - escuro da farda.
As botas negras, impecavelmente limpas.
Encontrei-o em plena crise de asma, Socorria - se , ami�de, de uma bomba de borracha.
Che Guevara , deus dos ateus, dos espoliados e dos explorados do terceiro mundo, deus da guerrilha, tinha na m�o uma bomba, n�o para destruir mas para se tratar� de falta de ar. Aspirava as bombadas, dando sempre mostras de um grande auto -dom�nio.
Fora-me solicitado que submetesse o question�rio � sua pr�via aprecia�o - e assim o fiz.
Uma das quest�es dizia respeito � cultura da cana - de - a�car em Cuba.
Como encarava ele a aparente contradi�o de combater teoricamente a monocultura - apan�gio dos sistemas de explora�o colonial e t�o t�pica dos sistemas de explora�o colonial e t�o t�pica do subdesenvolvimento - ao mesmo tempo que fomentava, ao extremo, a cultura da cana e a produ�o de a�car - mono -produto de que Cuba se tornaria, afinal, cada vez mais dependente?
Outro tema que nos preocupava, a n�s , africanos, era o papel dos cidad�os cubanos de origem africana na revolu�o cubana e a fraca representa�o deles nos �rg�os de direc�o dos pa�s e do partido, os quais tinham proscrito qualquer discrimina�o racial.
N�o constituiria o comandante Juan D�Almeida - �nico afro - cubano na direc�o do partido - uma excep�o?
Entretanto, a crise de asma agudizava-se , o que nem a mim me dava o � - vontade requerido nem, obviamente, ao meu interlocutor a disposi�o necess�ria para o di�logo.
Insistiu para que eu o iniciasse. Ao responder - lhe que n�o me sentia � vontade para faz�-lo, em virtude de seu estado, disse - me em tom provocante e com certa ironia :� Vejo que voc� � um jornalista muito t�mido.�
No mesmo tom lhe respondi, que n�o me tinha pronunciado como jornalista, mas como m�dico .� Comandante, as suas condi�es n�o lhe permitem dar qualquer entrevista�, disse-lhe eu.
Olhando-me , meio surpreso e sempre ir�nico, replicou: � Companheiro, eu n�o falo como doente, tamb�m falo como m�dico.
Em meu entender, estou em condi�es de dar a entrevista.�
Mas a crise de asma n�o melhorava, tornando imposs�vel o di�logo. Foi necess�rio adi�-lo.
Reencontr�mo-nos dias depois. Estava, ent�o, quase euf�rico. Referindo-se � atitude dos cidad�os cubanos de origem africana, � sua fraca participa�o na revolu�o, disse n�o gostar de se referir � origem ou � ra�a dos homens.
Apenas � esp�cie humana, a cidad�os, a companheiros.
Manifestei-lhe a minha total concord�ncia. �A verdade �, disse-lhe eu, �� que a revolu�o cubana tinha suscitado em todos n�s , africanos, uma enorme expectativa, muita esperan�a, pois que, pela primeira vez, assistia-mos a um processo revolucion�rio de cariz marxista, num pa�s subdesenvolvido e eis - colonial , tendo, lado a lado, cidad�os de origem europeia e africana, e onde a discrimina�o racial tinha sido, e ainda era, t�o not�rio.�
Cuba seria pois, para n�s, africanos, um teste. Segu�amos atentamente a sua evolu�o e quer�amos ver como seria resolvido este problema.
Muitos, em �frica, mostravam-se c�pticos. Mais do que interesse, da nossa parte existia ansiedade.
Segundo Che Guevara , a popula�o de origem africana, a principio, n�o participava no processo. Via-o com uma certa indiferen�a, como mais uma luta�
�deles�. Mas a desconfian�a estava a desaparecer, era cada vez maior a ades�o, � medida que iam constatando que este processo era totalmente diferente daqueles que o precederam. Que era um processo para todos.
Che Guevara acabava de chegar do Congo - Brazzaville.Visitara as bases do MPLA em Cabinda (de facto, na zona fronteiri�a Congo/ Brazzaville /Cabinda) .
Pedi - lhe que me desse as impress�es da sua visita. Che n�o era um diplomata, mas um guerrilheiro, e foi directamente � quest�o:
� O MPLA tem ao seu dispor condi�es de luta excepcionais.
Quem nos dera a n�s que, durante a guerrilha, em Cuba, tiv�ssemos algo compar�vel. Mas estas condi�es n�o est�o a ser devidamente aproveitadas, exploradas �
O MPLA n�o luta, n�o procura o inimigo , n�o ataca�
O inimigo deve ser procurado, deve ser fustigado, deve ser perseguido, mesmo no banho. Agostinho Neto est� a utilizar a luta armada apenas como mero instrumento de press�o pol�tica.�
Dei parte da conversa a Agostinho Neto. N�o reagiu. Tal como a L�cio Lara, que me respondeu:
� Os cubanos falam demais.�
Mas Che falava verdade. Durante v�rios anos, na minha qualidade de respons�vel dos servi�os de assist�ncia m�dica da 2� regi�o pol�tico - militar do MPLA (Cabinda ) , fui disso testemunha a cada passo.
A� e assim , como contesta�o a esta e outras situa�es id�nticas, surgiria dentro do movimento, antes de Abril de 1974, a Revolta Activa.
Hugo Jos� Azancot de Menezes foi m�dico. Foi um dos fundadores do MPLA
Conacry,10 de agosto de 1961 Ref. 383/21/61
Hugo Azancot de Menezes
Recebida aos 24/08/61
Caro Hugo
Estimamos que tu e a tua fam�lia tenham feito uma excelente viagem e que voc�s todos gozem de boa sa�de.
Diz-nos urgentemente de que necessitares a�. Estamos aqui para servir da melhor maneira.
1-Junto te envio copia de uma carta que o director do EXPRESSEN dirigiu ao bureau da CONCP.
Pelos vistos j� est�o a caminho de L�opoldville 3 toneladas de medicamentos, de medicamentos ,os quais se destinam a CVAAR.
Achamos que � muito importante reter a seguinte passagem da carta do director do EXPRESSEN: � Nos remede sont a leur disposition, mais s`ils n`arrivent pas a L�o ces temps -ci les remede seront distribu�s aux infirmeries au long de la frontiere.
Se for poss�vel ,� muito conveniente que te apresentes urgentemente ao M. Gosta Streiffert , coordenador em chefe da ac�o em favor dos refugiados angolanos no congo.
Os fins da tua visita ao Streiffert dever�o ser os seguintes:
a) Garantir- lhe a pr�xima chegada ao Congo de mais dois m�dicos angolanos. ( Com efeito, o ministro da sa�de deste pa�s acaba de dizer ao Eduardo que ele pode partir quando ele quiser .Em face disso, � quase certo que o Eduardo e o Boavida partir�o no pr�ximo barco, ou mesmo antes, de avi�o.
b) Avisar ao Streiffer que os tr�s m�dicos angolanos -
- Tu ,Boavida e Santos -,que estar�o a� certamente antes da chegada dos medicamentos, est�o prontos a entrar imediatamente em actividade com os medicamentos enviados da Su�cia pelo EXPRESSEN.
c) Deixar boa impress�o ao Streiffer . Para isso, recomendaremos -te um trato o mais diplom�tico poss�vel e a maior circunspec�o poss�vel . � fundamental que, depois do teu encontro com o Streiffer , este n�o fique com a impress�o de que a vossa actividade vai constituir uma esp�cie de concorr�ncia as fun�es dele e a actividade da liga das sociedades da cruz vermelha para o Congo.
Pelo contrario.
d) Sondar , habitualmente , a opini�o �ntima do Streiffer sobre a vossa futura presen�a junto dos refugiados . Tentar saber se h� influ�ncias, opostas a actividade da CVAAR , na pessoa do Streiffer e dos seus colegas.
e) Deixar em toda gente a convic�o firme de que a actividade da CVAAR ser� humanit�ria e apol�tica . Quero, no entanto, lembrar-te quee a melhor maneira de impor a ideia de que a CVAAR � apol�tica n�o consiste em declarares que ela � � apol�tica�, mas sim em mostrares um interesse humano, m�dico, por todas as v�timas da guerra. Quero dizer: o apoliticismo da CVAAR ser� inculcado no esp�rito dessa gente de maneira indirecta: atrav�s das tuas atitudes e do teu interesse humano e de t�cnico pelos doentes v�timas dos acontecimentos de Angola.
Fala pouco e ouve muito. � pela bouca que morre o peixe.
f) � fundamental que, depois do Streiffer te conhecer , deixes neste indiv�duo uma esp�cie de compromisso de consci�ncia que o impe�a de dar os medicamentos um outro destino diferente ,sem primeiramente te consultar.
2- O Aquino Bragan�a vai enviar-te de Rabat o original da carta do director do EXPRESSEN . Em caso de necessidade , essa carta poder� servir de tira-teimas sobre o destinat�rio dos medicamentos.
Tudo faremos para que dentro de dias o Eduardo e o Am�rico estejam a�.
3)- Diz-nos urgentemente se a War ON Wait j� transferiu o dinheiro para a�. Tenho insistido com o CABRAL para que isso se realize o mais depressa poss�vel . Mas achamos estranho que o CABRAL n�o tenha, at� hoje, acusado a recep�o da vossa carta para a WAR ON WAIT.
Achamos conveniente que, logo que chegues ao Congo , escrevas ao CABRAL informando-o de que j� estas a� e que outros m�dicos chegar�o dentro de dias .
Sa�de para a tua fam�lia e para ti.
Coragem , bom trabalho e prud�ncia!
P.S.- O original desta carta ,envi�mo-la , nesta mesma data , � nossa caixa postal de Brazzaville.
VIRIATO DA CRUZ
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTA��O DE
DE ANGOLA
M.P.L.A.
51,Avenue Tombeur de Tabora
LEOPOLDVILLE
COMIT�
DIRECTOR
NACIONALISTAS ANGOLANOS
Transcreve-se a nota N� .A/M/F enviada ,em 10.11.1961, ao comit� Executivo da Uni�o das popula�es de ANGOLA:
� Como V.Exas. Sabem, em nove de setembro de 1961, uma esquadra da nossa organiza�o militar, que se dirigia a Nambuangongo em miss�o de socorro �s popula�es cercadas pelas tropas portuguesas , foi , pela trai�o, cercada e feita prisioneira por grupos armados da Uni�o das Popula�es de Angola que actuam no corredor de entrada e sa�da dos patriotas angolanos.
Desde aquela data at� hoje, mantendo - se embora vigilante e tendo conhecimento , n�o sem revolta, dos maus tratos que foram infligidos por militantes da UPA aos nossos compatriotas, o comit� Director do M.P.L.A. Esperou ver qual seria o comportamento dos �rg�os dirigentes da UPA
Diante desse crime de lesa - p�tria e que enodoa o digno movimento patri�tico do povo angolano.
O Comit� Director do M.P.L.A. Faz o mais en�rgico protesto contra esse acto anti - patri�tico, que visa a enfraquecer a resist�ncia armada do povo angolano e que introduz, por iniciativa da UPA, a luta fratricida nos campos de batalha de Angola.
Sob pena desse � affaire � ser levado imediatamente ao conhecimento da opini�o p�blica e dos organismos internacionais , o comit� Director do MPLA
� - exige a imediata liberta�o de todos os nossos compatriotas;
� - exige a entrega de todos as armas, muni�es e demais bagagens
� - que foram retirados aos guerrilheiros daquela nossa esquadra ; e
� - responsabiliza, desde j� , a uni�o das popula�es de Angola pela
� - vida desses nossos valorosos compatriotas.
� Na expectativa, subscrevemo-nos
Atenciosamente
(ass) Mario Pinto de Andrade
Viriato da cruz
Matias Migu�is
Eduardo dos Santos
Hugo de Menezes
UMA CR�TICA MUITO DURA AOS M�TODOS DO MPLA
Ao saber da conversa ocorrida em Acra (Ghana), L�cio Lara reagiu: � Os cubanos falam de mais�
HUGO AZANCOT DE MENEZES
Longe de mim a pretens�o de ter feito hist�ria ou de escrev�-la.
Contudo, vivi factos que envolvem, tamb�m , outros protagonistas.
Alguns, figuras ilustres. Outros, gente humilde, sem nome e sem hist�ria, relacionados, apesar de tudo, com per�odos inolvid�veis das nossas vidas.
Alguns destes factos , ainda que de fraca relev�ncia, podem ter interesse, como � entrelinhas da Hist�ria�, para ajudar a compreender situa�es controversas.
Conheci Ernesto Che Guevara em Acra , em 1964, e comprometi - me a n�o publicar alguns temas abordados na entrevista que tive o privil�gio de lhe fazer como � rep�rter� do jornal Fa�lha.
J� se passaram mais de 30 anos. O contexto actual � outro.
Pela primeira vez os revelo, na certeza de que j� n�o � o quebrar de um compromisso, nem a profana�o de uma imagem que no
A entrevista realizou-se na resid�ncia do embaixador de Cuba em Acra , Armando Entralgo Gonz�lez, que nos distinguiu com a sua presen�a.
Ali estava Che�
A sua tez muito p�lida contrastava com o verde - escuro da farda.
As botas negras, impecavelmente limpas.
Encontrei-o em plena crise de asma, Socorria - se , ami�de, de uma bomba de borracha.
Che Guevara , deus dos ateus, dos espoliados e dos explorados do terceiro mundo, deus da guerrilha, tinha na m�o uma bomba, n�o para destruir mas para se tratar� de falta de ar. Aspirava as bombadas, dando sempre mostras de um grande auto -dom�nio.
Fora-me solicitado que submetesse o question�rio � sua pr�via aprecia�o - e assim o fiz.
Uma das quest�es dizia respeito � cultura da cana - de - a�car em Cuba.
Como encarava ele a aparente contradi�o de combater teoricamente a monocultura - apan�gio dos sistemas de explora�o colonial e t�o t�pica dos sistemas de explora�o colonial e t�o t�pica do subdesenvolvimento - ao mesmo tempo que fomentava, ao extremo, a cultura da cana e a produ�o de a�car - mono -produto de que Cuba se tornaria, afinal, cada vez mais dependente?
Outro tema que nos preocupava, a n�s , africanos, era o papel dos cidad�os cubanos de origem africana na revolu�o cubana e a fraca representa�o deles nos �rg�os de direc�o dos pa�s e do partido, os quais tinham proscrito qualquer discrimina�o racial.
N�o constituiria o comandante Juan D�Almeida - �nico afro - cubano na direc�o do partido - uma excep�o?
Entretanto, a crise de asma agudizava-se , o que nem a mim me dava o � - vontade requerido nem, obviamente, ao meu interlocutor a disposi�o necess�ria para o di�logo.
Insistiu para que eu o iniciasse. Ao responder - lhe que n�o me sentia � vontade para faz�-lo, em virtude de seu estado, disse - me em tom provocante e com certa ironia :� Vejo que voc� � um jornalista muito t�mido.�
No mesmo tom lhe respondi, que n�o me tinha pronunciado como jornalista, mas como m�dico .� Comandante, as suas condi�es n�o lhe permitem dar qualquer entrevista�, disse-lhe eu.
Olhando-me , meio surpreso e sempre ir�nico, replicou: � Companheiro, eu n�o falo como doente, tamb�m falo como m�dico.
Em meu entender, estou em condi�es de dar a entrevista.�
Mas a crise de asma n�o melhorava, tornando imposs�vel o di�logo. Foi necess�rio adi�-lo.
Reencontr�mo-nos dias depois. Estava, ent�o, quase euf�rico. Referindo-se � atitude dos cidad�os cubanos de origem africana, � sua fraca participa�o na revolu�o, disse n�o gostar de se referir � origem ou � ra�a dos homens.
Apenas � esp�cie humana, a cidad�os, a companheiros.
Manifestei-lhe a minha total concord�ncia. �A verdade �, disse-lhe eu, �� que a revolu�o cubana tinha suscitado em todos n�s , africanos, uma enorme expectativa, muita esperan�a, pois que, pela primeira vez, assistia-mos a um processo revolucion�rio de cariz marxista, num pa�s subdesenvolvido e eis - colonial , tendo, lado a lado, cidad�os de origem europeia e africana, e onde a discrimina�o racial tinha sido, e ainda era, t�o not�rio.�
Cuba seria pois, para n�s, africanos, um teste. Segu�amos atentamente a sua evolu�o e quer�amos ver como seria resolvido este problema.
Muitos, em �frica, mostravam-se c�pticos. Mais do que interesse, da nossa parte existia ansiedade.
Segundo Che Guevara , a popula�o de origem africana, a principio, n�o participava no processo. Via-o com uma certa indiferen�a, como mais uma luta�
�deles�. Mas a desconfian�a estava a desaparecer, era cada vez maior a ades�o, � medida que iam constatando que este processo era totalmente diferente daqueles que o precederam. Que era um processo para todos.
Che Guevara acabava de chegar do Congo - Brazzaville.Visitara as bases do MPLA em Cabinda (de facto, na zona fronteiri�a Congo/ Brazzaville /Cabinda) .
Pedi - lhe que me desse as impress�es da sua visita. Che n�o era um diplomata, mas um guerrilheiro, e foi directamente � quest�o:
� O MPLA tem ao seu dispor condi�es de luta excepcionais.
Quem nos dera a n�s que, durante a guerrilha, em Cuba, tiv�ssemos algo compar�vel. Mas estas condi�es n�o est�o a ser devidamente aproveitadas, exploradas �
O MPLA n�o luta, n�o procura o inimigo , n�o ataca�
O inimigo deve ser procurado, deve ser fustigado, deve ser perseguido, mesmo no banho. Agostinho Neto est� a utilizar a luta armada apenas como mero instrumento de press�o pol�tica.�
Dei parte da conversa a Agostinho Neto. N�o reagiu. Tal como a L�cio Lara, que me respondeu:
� Os cubanos falam demais.�
Mas Che falava verdade. Durante v�rios anos, na minha qualidade de respons�vel dos servi�os de assist�ncia m�dica da 2� regi�o pol�tico - militar do MPLA (Cabinda ) , fui disso testemunha a cada passo.
A� e assim , como contesta�o a esta e outras situa�es id�nticas, surgiria dentro do movimento, antes de Abril de 1974, a Revolta Activa.
Hugo Jos� Azancot de Menezes foi m�dico. Foi um dos fundadores do MPLA
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